sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CASULO

"Você já viu tristeza em meu rosto?
talvez lá dentro do meu olho..."

Abrem-se as cortinas; apagam-se as luzes; acendem-se os holofotes e a platéia aplaude, assobia e espera. Espera ansiosa pela chegada do artista.
Quem virá? Malabaristas, equilibristas, animais amestrados, ou...
Estouro, gritos, palmadas e eis que olhando maliciosamente para os espectadores surge o palhaço.
Ele canta, dança, conta piada e gargalha, gargalha até não poder conter a lágrima que desce pelo rosto pintado. Rosto tão alvo, que não se percebe uma reação! É um rosto risonho, debochado e...sem expressão, sem vida . Aquela máscara encobre o vazio que o pobre palhaço sente. Aquele sorriso pintado, mascara um estremecimento dos lábios, e, aquela lágrima que todos aplaudem como fazendo parte da representação, é a única verdade que se espalha pelo rosto do artista.
A solidão de seus dias é sempre acompanhada pela espera inútil da realização de seus sonhos e são suas companheiras inseparáveis.
Sua dor é o palco onde irá logo mais representar a farsa que o destino lhe impôs.

Gargalhar...gargalhar...e sufocar no peito a dor da solidão causada pela saudade.

Pobre palhaço, que para alegrar o público, precisa ele próprio rir da sua solidão e amargura.